Histórias Conscientes

Olá!

Começo esse artigo através de uma analogia com um fato que aconteceu comigo e em seguida explicarei a correlação com o assunto desse artigo: 

O que são Histórias Conscientes?

Meu filho, que está no Nono ano do Ensino fundamental, pediu-me ajuda para fazer uma redação dissertativo-argumentativa sobre Voto Consciente- Um trabalho de Filosofia.

Prontamente eu o questionei sobre a definição de Voto Consciente.

-Ora, é aquele voto que se pensa antes de fazer-respondeu-me.

-Pensamento e consciência não é a mesma coisa. Eu posso pensar em mil motivos para votar –ou não votar- mas nem todos meus pensamentos resultam num voto consciente. Consciência implica em prever consequências de minha ação antes mesmo de executá-la.

-Qual significado de Voto Consciente então?-questionei-o.

 Ele analisou minha colocação acima e concluiu:

-Voto consciente é o voto em que eu analiso as possíveis consequências da minha escolha por esse ou aquele candidato.

-Sim, agora é só desenvolver sua redação.

-Mas eu não preciso de 30 linhas para falar algo que eu disse em duas- ele ponderou.

-Realmente- concordei- Mas irá precisar de 30 linhas para defender sua tese, através de argumentos convincentes para embasar sua teoria, não importando se sua opinião é positiva ou contrária ao tema proposto; A dissertação-argumentativa necessita de uma opinião com embasamento, exemplos que comprovem a tese, argumentos que elucidem a questão para o leitor.

Trazendo essa experiência para a literatura.

Um romance, um conto ou ainda um texto, por mais despretensiosos que sejam, precisam desenvolver uma proposta dissertativo-argumentativa.

Uma boa história sempre quer transmitir uma mensagem.

Uma mensagem implica em ter um emissor-aquele que envia a mensagem- e o receptor- aquele que recebe a mensagem.

Na literatura, o Emissor é o autor, que muitas vezes tem papel de narrador onisciente ou ainda Narrador-personagem.

O receptor é o Leitor- aquele que irá ler o texto.

É claro que a mensagem, em primeira instância deve agradar ao autor- aquele que tem algo a dizer.

Por outro lado, se a mensagem não seguir alguns requisitos básicos que permitam o entendimento daquilo que o autor buscou transmitir, o leitor não irá entender a mensagem satisfatoriamente.

O Objetivo é entender a mensagem do autor, ler a história que o escritor imaginou. Ao se deixar tantas pontas soltas ou ausências de detalhes com a intenção de que o leitor preencha essas lacunas com sua criatividade,ou ainda com a presunção de que o leitor compreenda claramente aquilo que eu quis dizer,significa  que ... Eu estou criando a minha própria história, ora! Como leitora, eu quero ler uma história e não inventar uma!

Se a mensagem for tão hermética ou confusa que só o próprio autor consiga entendê-la, o autor jamais será lido, ainda que esteja publicado!

Virou certo modismo dizer que o autor escreve para ele mesmo - e até certo ponto, é isso mesmo!

Claro que o escritor escreve para ele mesmo.  Ele deseja expor suas ideias com o uso da palavra escrita. Mas disso faz dele um escritor e não um autor.

Um autor é mais do que aquele que publica um livro. Ele quer que alguém leia e interprete sua mensagem, concorde com ela (se possível) ou até discorde, mas espera que através de um feedback,o leitor se manifeste e interaja com ele,também emitindo uma opinião sobre a mensagem lida.

E para isso a mensagem precisa ser claramente codificada pelo leitor.

Uma história pode ser escrita com objetivo de entretenimento, ou ainda defender uma opinião, não importa.

Se eu contar uma piada, claramente espero que as outras pessoas achem graça, minha intenção é provocar o humor, certo? O riso é a reação que pretendo obter por aquele que escutar minha piada.

Assim, não importa se a história contada seja simples, ela sempre trará uma mensagem.

Voltando ao meu exemplo no início deste artigo.

Houve uma confusão clara por parte do meu filho entre os significados dos verbos pensar e refletir. Todo aquele que reflete, pensou. Mas nem todo pensamento é consciente.

“O mundo de fora penetra em nós pelos sentidos, afetos e emoções. A função do pensamento é a de elaborar as experiências obtidas e de relacioná-las com os conhecimentos já dados para enriquecê-los e mudá-los. Os pensados assim se aprimoram, se transformam, pode ser jogados fora ou se tornarem mais claros, amplos e focados. O conhecimento evolui e o pensar sai do solipsismo ao qual, caso contrário, estaria condenado. Solipsismo é aquela conversa solitária que não conhece o dialogo. O verdadeiro pensar sempre acende uma chama, ilumina a realidade com nova luz, abrindo caminhos para a ação. Promove a consciência.” [1] (Psicologia Dialética).

Posso ler um texto enquanto minha mente viaja em pensamento por outros assuntos: a conta para pagar, a música que começou a tocar, um passeio...

O livro estará sendo lido, mas a leitura não trará uma reflexão consciente.

Se colocarmos essa diferença para nós enquanto autores, a questão surge quando meu personagem participa de cenas de ação e cenas de sequela.

Cenas de ação- O personagem" X "atravessa um portal mágico.

Cenas de sequela- O personagem reflete sobre isso. Pensa nas consequências de atravessar essa passagem refletindo assim nas mais diferentes situações, como naqueles que ficaram do outro lado, por exemplo; Sente medo, alegria e surpresa, tem reações humanas.

Uma história de um romance pode ser resumida numa premissa:

“Um garoto órfão que vai para uma escola de magia e passa por inúmeras aventuras nessa escola”. (Harry Potter)

Imagina que história mais sem graça seria o Original Harry Potter se J.K.Rowling fosse tão objetiva e direta assim?

No máximo essa premissa configura a mensagem básica; mas, para ser bem compreendida pelo leitor, a mensagem precisa responder: quem é esse órfão?Como ele ficou órfão? O que isso poderá interferir nessa escola de magia? Como ele foi  parar lá? E assim por diante.

Respondendo essas inúmeras questões, iremos traçar um perfil físico e psicológico do personagem, descrever cenários, fazer ambientação adequada, criar e resolver conflitos.

Um mesmo livro poderá ser escrito em dez linhas, dez páginas ou dezenas de páginas.

Em tese,a diferença está no aprofundamento das relações entre os personagens, criações de conflitos e soluções intermediárias até a solução final.

Uma história curta demais é uma premissa e não um romance. As cenas se desenrolam abruptamente,o desenvolvimento de personagens é sofrível e os personagens são bidimensionais,rasos como folha de papel.

Uma história longa demais, entretanto, cuja narrativa sejam sucessões de cenas de ação sem nenhuma reflexão entre elas e não possua  uma argumentação lógica e coerente que explore infinitas possibilidades ao transmitir a mensagem é, dizendo no popular, pura “encheção de linguiça”.

Falo, brincando, como a Rainha de Copas: ”-Cortem-lhe a cabeça!”.

Jogue fora, lapide o seu diamante- mas não demais, cuidado!O Diamante é mais valioso quanto Maior for seu tamanho... E não menor!

Para ser considerado um livro,sua narrativa precisa ter,no mínimo ,50 páginas.

Se lapidar demais, você poderá perder a essência da sua mensagem- a sua história.

Finalizando, uma colocação oportuna: 500 páginas de um romance é algo desnecessário.

 Além de caro para um projeto de publicação, surge a seguinte pergunta sobre romances extensos:

Quem irá ler 500 páginas do seu livro com atenção adequada se a maioria dos leitores- especialmente os mais jovens- não lê mais que dez linhas em simples mensagens nas redes sociais?

Nem grande demais, nem curta demais- o meio termo terá como resultado uma História Consciente!

Essas são algumas considerações sobre esse tema que, é claro, não se esgota nesse artigo!

Agora, qual a opinião sobre esse assunto?

Escreva nos comentários e até a próxima!

                                                              Texto de Michelle Louise Paranhos

    Autora de Ponto de Ressonância, Mulato Velho e Coisas de Lorena.Acadêmica de Literatura da ALUBRA.

 

 

 

 

 

 

 



[1] Texto de Adriana Tanese Nogueira in “Já pensou o que é pensar?”.

https://www.psicologiadialetica.com/2011/03/o-que-e-pensar-e-refletir.html